Se engana quem pensa que a Bolívia é um país feio. Muito pelo contrário. Localizada no coração da América do Sul e com um pouco mais de 10 milhões de habitantes, esse país respira muita cultura e guarda lindas belezas naturais. A maioria das pessoas não sabe, mas a Bolívia já possuiu a cidade mais populosa do mundo. No século 17, devido a exploração de prata no Cerro Rico, a cidade de Potosí foi comparada a Paris devido a riqueza que circulava em suas ruas.

Potosí é uma das cidades mais altas do mundo e está localizada a aproximadamente 4.000 metros acima do nível do mar. A verdadeira história dessa cidade se mistura com uma lenda popular. Conta-se que um pastor de lhamas perdeu um de seus animais no altiplano. Ele procurou pelo animal durante todo o dia, mas sem sucesso. Como a noite se aproximava ele resolveu procurar abrigo longe do vento, em uma das encostas do Cerro Rico. Depois de acender uma fogueira, percebeu que algo brilhava entre as brasas. Na manhã seguinte ele descobriu que o fogo havia fundido a prata que estava na superfície e já estava misturada com as cinzas. A história conta que o Cerro Rico era tão cheio de prata, que o mineral podia ser encontrado a olho nu em seu solo.

Desde então essa montanha tem sido explodida e escavada por milhares de pessoas. Primeiro foram os espanhóis com a chegada da colônia. Em 1611 Potosí era a maior produtora de prata do mundo e sua população superava grande capitais europeias. A cidade chegou a ter mais de 150 mil habitantes, população que na época era superior a  de Paris. Estudos revelam que nessa época cerca de 80% da prata que circulava no mundo vinha de Potosí. Em 1825 surgiram rumores de que a prata estaria acabando e a população de Potosí começou a se dispersar. A cidade chegou a ficar com apenas 8 mil habitantes que ainda tentavam a sorte na montanha. Com a descoberta de novos minerais no Cerro Rico como, o  Estanho, os mineiros voltaram para a montanha. Hoje a cidade possui mais de 170 mil habitantes e cerca de 15 mil mineiros que continuam explorando o Cerro.

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Tivemos a oportunidade de conhecer essa encantadora cidade na época do natal, com as ruas e praças enfeitadas. Como você pode imaginar, a principal atração turística da cidade é a montanha. Em volta da praça de armas é possível encontrar diversas agências de turismo que realizam passeios a várias minas no Cerro Rico. Em todas as agências os turistas são equipados com botas, macacões e lanternas.

Mas, antes de entrar na mina, é costume que os visitantes levem alguns presentes aos mineiros que trabalham lá. Os presentes variam e são desde folhas de coca, que ajudam a respirar na altitude, até bananas de dinamite. O grande número de acidentes na montanha é devido as explosões, que ainda acontecem de forma bem rustica.

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Como os mineiros trabalham por conta própria, não é possível saber ao certo a quantidade exata de minas que estão instaladas no Cerro Rico. Mas algumas pessoas dizem existir mais de 200 buracos por toda a parte da montanha. Todas as manhãs esses mineiros começam o dia comendo muita comida. Os pratos de sopa, macarrão, arroz e frango é o único alimento que eles irão comer durante o dia, já que toda a comida levada para dentro da mina fermenta muito rápido, podendo causar inúmeros problemas a saúde. Eles comem como se não houvesse o amanhã. Mas se você pensar bem, devido a esse trabalho, o amanhã realmente não pode existir para eles.

Do lado de fora existe muita sujeira. Sacos que são usados para tirar pedras, água, barro e equipamentos antigos tomam conta da paisagem. Diretamente do buraco da mina trilho emerge da escuridão. A cada passo que se avança adentro a luz vai ficando mais fraca, o ar vai ficando mais frio, as paredes mais apertadas e o silêncio a dominar o ambiente.

Nosso guia foi um mineiro que dividia seu tempo atendendo turistas e procurando prata. Ele nos levou até a mina do Rosário, uma mina colonial, uma das mais antigas da montanha e que já possui mais de um quilômetro de profundidade. Em algumas partes a água tomou conta dos trilhos. Durante todo o caminho ele conta antiga histórias de mineiros e de como o trabalho dentro da terra é difícil. Na época colonial os escravos indígenas chegavam a ficar três meses dentro da mina sem ver a luz do dia. Por isso, os colonos construíram galerias aonde funcionavam dormitórios e refeitórios. Era comum a morte por deslizamentos, doenças respiratórias e infecções.

.Outra curiosidade entre os mineiros é o “deus” que eles veneram. Nosso guia nos contou que os espanhóis impuseram o cristianismo a toda a população. A maioria se converteu, mas, por causa dos constantes acidentes e desmoronamentos que aconteciam dentro da mina, muitos começaram a duvidar do poder “de deus” dentro da terra. Assim, os mineiros começaram a fazer suas orações para o “tio”, uma espécie de demônio com cifres, bochechas cheias de coca e um pênis ereto. Por todos os corredores existe uma estátua desse tipo. Os trabalhadores deixam cigarros, folhas de coca e uma água ardente que chega a 95% de álcool. Segundo eles, “dentro da mina, não existe nada bom”.

O passeio visita diversas galerias e antigas instalações. Encontramos um mineiro que estava entrando em um novo local de exploração. Ele era pura felicidade. Tamanho sorriso era devido a aquisição de uma nova furadeira que estava deixando todo o trabalho mais fácil. Ele nos convidou para seguir até onde estavam perfurando. O barulho intenso da furadeira começava a ficar mais forte, as paredes ainda mais apertadas e o teto cada vez mais baixo. Em certo ponto precisávamos rastejar pelo chão entre as pedras e cascalhos. A temperatura ficava cada vez mais quente e a dificuldade de chegar ao local só aumentava. Tivemos que literalmente escalar uma parede de 8 metros segurando apenas uma corda úmida. Devido a altitude a respiração era ofegante. Por causa de todas essas dificuldades desistimos de chegar até o ponto de exploração. Mas pudemos sentir por algumas horas a dificuldade e os problemas que esses homens enfrentam buscando a prata.

Os homens começam a trabalhar nas minas ainda jovens, com idade entre 13 e 14 anos. Eles seguem os passos dos pais e começam ajudando como mensageiros e carregadores. Assim ele vai crescendo, descobrindo suas dificuldades, aprendendo passo a passo o trabalho. Quando chegam à idade adulta querem trabalhar por conta própria ou continuam explorando junto com sal família. Segundo nosso guia, um mineiro que trabalho 5 dias por semana pode encontrar até 15 toneladas de minerais por mês, gerando uma renda de até 25 mil bolivianos (equivalente a um pouco mais de R$10 mil)..

A visita ao Cerro Rico, em Potosí, é uma ótima maneira de conhecer a história da região e ter contato com pessoas que vivem aquela realidade diariamente. Mas esse incrível lugar, é só um pedacinho da Bolívia, o coração Sul Americano.

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